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Para distrair a filha, a mãe tecia e bordava seus vestidos com luares de prata, pacientemente. O pai enfiava em fios de seda pérolas brancas e lisas, cultivadas em conchas, para o colar da menina. Mas nada trazia a felicidade para a filha, que sonhava, dia e noite, noite e dia, em ter a Lua, mesmo sendo longe e fria.
Muitas vezes, buscando consolar a menina, a mãe dizia: "Filha minha, o caminho da Lua é muito dentro da noite. Em seu escuro, além de estrelas e constelações, grandes dragões cortam as estradas com raios, trovões e labaredas. Nas nuvens da noite dormem morcegos com asas longas, capazes de esconder outros vampiros e demônios." Mas nada desviava o desejo da menina de morar na Lua, mesmo sendo longe e fria.
Uma tarde o pai não voltou do trabalho. Perdeu-se nas sombras da floresta colhendo os frutos mais saborosos, fabricados pela ternura das estações, para presentear à filha. A noite já andava alta, e a mãe, debruçada na janela, com os olhos fixos no caminho que traria o esposo, caiu em um sono grande e mais profundo que o firmamento. E a menina, sonhando com a Lua, aproveitou o descuido dos pais e tomou o caminho de São Tiago, buscando a Lua, longe e fria. A estrada era feita de neblina e poeira de estrela, brilhante como o vidro. Mas entre uma estrela e outra havia o nada. E o nada era imenso e vazio.
Ela assentou-se na primeira estrela, debruçada sobre a noite. Muito triste, começou a chorar. E seu intenso pranto choveu por sobre a Terra. E eram tantas as lágrimas que um oceano, salgado e misterioso, se formou.
A mãe da menina, com medo de se afogar, pediu ajuda aos céus e transformou-se em espírito das águas. O pai, sem a esposa e a filha, cheio de amor, salvou-se em um pequeno barco e passa as noites e noites navegando nos mares, procurando a mulher e a menina querida.
Naquela noite, os soluços da menina chamaram a atenção de um cavaleiro que galopava pelas estradas de São Tiago. Escutando o pranto, cheio de pena, aproximou-se da menina. Adivinhando o seu desejo de ter a Lua, mesmo sendo longe e fria, oferece-lhe ajuda. A menina montou na garupa do cavalo branco. E, como o cavaleiro era São Jorge, não foi difícil chegar à Lua.
E até hoje, se a noite é clara, a menina desce com a Lua para o fundo dos mares, rios e oceanos, visita o espírito das águas e ilumina o caminho para o pescador de estrelas.
Este texto faz parte do Livro "Faca afiada", do escritor Bartolomeu Campos Queirós.
Os vértices da lua não se tocam mas efectivamente prolongam-se para nos dar essa lua cheia e nova em sensações tão quentes... é por essa luminosidade que recai nas noites que nos cobrimos em sonhos um tanto pendentes... por muito que seja longínqua, a lua, jamais será fria: um perfeito lugar para morar em quimeras; pulando tão mais próximos, quase estrelas, podendo olhar a Terra nos vivos contornos e contrastes e todos os corpos celestes poderão ser padrões que nos atravessam o olhar.
ResponderExcluirO olhar fora da Terra deve ser tão diferente do olhar em Terra para fora da lua, e a lua toda dentro quando surge, mesmo que seja em pensamento - aquece e refresca. Que frio! Que calor!
Os contos sempre nos ensinam as melhores maneiras para sentirmos a matéria e os corpos das coisas. Quem quiser um só pensamento frio ou quente, poderá ir morar para a lua. Ou, então, viver na Terra... em Sonhos.
Beijo
Tero